O cavaleiro da triste figura e seu fiel escudeiro numa jornada a uma terra “abençoada por Deus e bonita por natureza.”
Eugênio Macêdo
Local: Brasil
Data: Ano da Graça de 2005
Personagens: Dom Quixote e Sancho Pança
CENA I – SUL DO BRASIL(Entram Dom Quixote e Sancho Pança montados em seus cavalos e carregando seus pertences)
Sancho: Madre de Dios!!! Senhor, não andamos muito dessa vez?
Don Quixote: Bobagem, Sancho. Para um cavaleiro andante não há distâncias longas ou curtas. Tudo só depende do fôlego de seu corcel. E para Rocinante, meu caro mancebo, a estrada só acaba quando chega o mar. Um companheiro ideal para o cavalheiro da triste figura que anda pelos rincões da terra, salvando os inocentes da perfídia e do veneno dos maus de coração, dos fracos de espírito.
Sancho: Meu senhor, não estou duvidando de vossa mercê continuar vossa jornada pela justiça e harmonia do mundo, mas será que ainda há aventuras?
Dom Quixote: Sancho, me assusta sua falta de fé. Enquanto existir uma donzela em apuros, haverá aventuras. Enquanto uma boa alma cristã estiver gritando por socorro, estarei lá. ( avista alguns camponeses) Veja estes pobres camponeses, que roupas estranhas eles usam.
Sancho: São chamados de gaúchos, senhor.
Dom Quixote: Gaúchos? Parecem acometidos de um grande mal.
Sancho: Enquanto vossa mercê repousava, eu o vigiava como sempre, e várias vezes passaram perto de nós, famílias inteiras de camponeses, que além de mal vestidos e sujos, estavam empestados por uma moléstia que tem até sobrenome: "Chagas".
Dom Quixote: Chagas?
Sancho: Doença de Chagas. Essa enfermidade deve também alterar os nervos porque eles diziam tantos despautérios, senhor.
Dom Quixote: Como o quê?
Sancho: Que a tal enfermidade era causada pela picada de um pequeno inseto com nome de barbeiro.
Dom Quixote: Inseto?! Como um insignificante e desprezível inseto pode degenerar de tal forma a mais divina das criaturas terrestres? Isso é obra de alguma bruxaria.
Sancho: Dizem que por essas bandas há uma ilha habitada por bruxas, a ilha de Santa Catarina.
Dom Quixote: Temos que ir até esta ilha e libertar esse povo da maldade dessas bruxas. Vamos, Sancho!! Quem sabe dessa vez, não dou uma ilha para você?
Sancho: Mas, meu senhor, esta ilha já tem dono há muito tempo. Ele até fundou uma cidade e a batizou com seu nome.
Dom Quixote: Ah,verdade? Que cidade seria? Alexandria?
Sancho: Não. Florianópolis.
Dom Quixote: Não tema , estimado Sancho. Seguramente, esse tal Floriano é um aliado das bruxas. Se assim o for, ele vai se ver comigo e com minha lança. Vamos ao combate!!! Avante, escudeiro!!
Sancho: Andalê, andalê!!!(Sons de luta)
CENA II – NORDESTE DO BRASIL
(Dom Quixote e Sancho Pança caminham com dificuldade devido aos ferimentos da luta em Florianópolis)
Sancho: Madre de Dios!!! Depois dessas e outras, eu ainda fico pensando, nobre senhor: qual a razão de nossa jornada? Não será tempo de aquietar-se?
Dom Quixote: Não!! Definitivamente, em meu coração não há espaço para desistir. E como disse o Grande Cervantes: " O coração tem razões que a própria razão desconhece."
(Passam por eles pessoas vestidos de cavaleiros cristãos que irão reviver as antigas epopéias medieviais)
Sancho: Senhor, veja esses cavaleiros cristãos. Parecem que vão combater mouros infiéis. Talvez pelos rastros de seus cavalos esteja a luta digna de um cavaleiro de vossa estirpe.
Dom Quixote: Tem razão (Tienes razón), Sancho. Mas como pode a gente de essa terra conviver com bruxas, e também combater os mouros?Sancho: Aqui é uma terra abençoada por Deus e bonita por natureza onde se plantando tudo dá. Uma terra cheia de flores e frutos, de animais de todas as espécies, rica em ouro e diamantes.
Dom Quixote: Então o povo desta terra deve ser rico.
Sancho: Nem todos, meu senhor.
Dom Quixote: Mas como, Sancho? Por que há camponeses pobres, sem terras e famílias inteiras morando em favelas? Isso é obra de algum feitiço.
Sancho: Dizem que o problema todo são os coronéis e políticos que acumulam terra, títulos e poderes.
Dom Quixote: Avante, Sancho!! Vamos aonde estes coronéis e estes políticos estão!
Sancho: Dizem que se reúnem na capital desta terra. Uma tal de Brasília.
Dom Quixote: Até Brasília, Sancho!!! Que esses coronéis e esses políticos temam a minha lança!! Avante!!! (saí)
Sancho: (à parte) Não sei, não. Dizem que de lança eles não têm medo não. Só de uma tal de CPI, Impeachemant... Bem, nada é perfeito, nem mesmo nesta terra abençoada por Deus e bonita por natureza.” Andalê, andalê!!(entra a música de Jorge Benjor)
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
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adore, Eugênio... achei super inteligênte...kero ver eles em brasília, agora... bjss, Juliana Telles
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