terça-feira, 16 de dezembro de 2008

DO VILARINHO AO ELDORADO

de Eugênio Macêdo

Engraçado como damos valor as coisas somente quando estamos longe delas. O metrô nesse caso é a coisa em questão. Eu havia ido a São Paulo para um teste do Cirque du Soleil (aquele circo de franco- canadenses cujos preços dos ingressos são o sonho de consumo de qualquer entusiasta da arte). Chegando lá, tive a oportunidade de usar o metrô de lá. E engraçado que comecei a usar mais o metrô daqui de BH justamente depois de voltar de São Paulo. E imediatamente notei a diferença.O metrô de lá são várias linhas, grande parte delas subterrâneas, os vagões são rápidos. O mapa do metrô mostra linhas que se cruzam, várias baldeações e tal.Aqui é aquele ritmo da própria cidade de Belo Horizonte, o arraial que teimou em crescer. É apenas uma linha correndo na superfície (apesar de nossa vocação inapta para esburacar a terra), cuja velocidade é bem menor (só a velocidade das catracas liberarem a passagem ao receberem o bilhete é quase bíblica). Aqui pode se dizer que o metrô é o próprio ritmo de Belo Horizonte. Essa primeira linha ainda não está totalmente pronta e olha que são mais de 20 anos de construção (mais tempo que uma das grandes pirâmides do Egito) e agora pra linha dois acredito ser mais uns 20 anos só pra começar. E a linha 3? Ai, nem sei....Bom, mas que é charmoso é. Isso não se pode negar. Trem é algo tão entranhado na nossa cultura que virou uma espécie de palavra curinga. Quantas vezes não ouvimos alguém dizer que está com “um trem no olho”, ou que não “guenta esse trem” e outros trens mais? Na alma mineira deve andar um grande trem, apitando nas veias e esfumaçando na cabeça. Só pode. E mineiro não perde o trem, mas o metrô eu já perdi algumas vezes, eu confesso; mas nunca o perdi em São Paulo. Vocês acham que eu ia dar motivo pros paulistas? De jeito nenhum. Até brinquei com uma funcionária de lá: eu havia sentado em um banco esperando o trem (literalmente) chegar. Aí ela aproxima-se de mim e diz para eu sentar mais pra esquerda porque um vagão estava desativado e que eu poderia perdê-lo, eu falei que na hora correria e além de tudo era mineiro e que mineiro não perde o trem.Mas voltando ao metrô daqui, as próprias estações refletem o nosso jeito de ser, nossa história. Começamos na Vilarinho, pequena vila, vilazinha ou pequeno Vilar (se alguém souber mais precisamente porque Vilarinho por favor me escrevam) lá em Venda Nova, tão ou mais antiga que a própria cidade. Passamos por Waldomiro Lobo (o mesmo desafio feito para a Vilarinho: “alea jacta est”) , Floramar (idem), 1º de Maio, nossas raízes operárias, os braços que derrubaram o antigo arraial e construíram essa cidade, os operários que ainda hoje trabalham nas várias obras que sempre surgem, lógico que não são os mesmos. Lógico. Chegamos ao Minas Shopping. É um shopping adorável, eu sou suspeito porque moro perto e até estive no dia da inauguração do Shopping (há uns 15 anos atrás), defino-o como um misto de grande shopping de luxo de uma Metrópole com a feira mais simpática de um arraial. E a estação do Minas tem um charme a mais: uma fileira de árvores que de manhã os pássaros dão um pouco do brilho de suas vozes para os que precisam estar ali por volta das seis, sete da manhã. Depois começam os Santos: São Gabriel, Santa Inês, Santa Tereza, Santa Efigênia que são intercaladas por José Cândido da Silveira e pelo Horto (mineiro tem que ter uma terrinha pra chamar de sua, não é?) e no Horto tem a vista mais linda que já vi: as montanhas de BH, algumas tomadas por casinhas simples, outras ainda intocadas (pelo menos pelo ângulo que vi, sempre acho que por trás delas está um buraco só. Penso que fazem isso para não espantarem os turistas) Aí chegamos no Centro pra trabalhar, mas se cansarmos tem na próximo estação uma Lagoinha para descansar e tomar uma cervejinha, de onde ali perto saíram as primeiras pedras para o calçamento da cidade. Se bem que muitos vão pra lá pra sair da cidade em algum dos ônibus da Rodoviária. Bão depois, é a Carlos Prates de onde saíram os whiskys tomados na inauguração de Brasília (segundo o incansável e exemplar José Maria Rabêlo em seu antigo jornal Binômio), Calafate, Vila Oeste e chega a Cidade Industrial, afinal, Metrópole que é Metrópole tem que ter um complexo industrial pra chamar de seu... E chegamos enfim ao Eldorado, ah,o Eldorado....a cidade perdida do ouro espanhol, até hoje não encontrada. Uma beleza. Estamos na cidade de Contagem. Tão promissora, tão companheira de nossa Belô, eu fico muito feliz por termos uma tão boa vizinha. Onde pegamos o trem tem uma lanchonete com uns salgados muito bons que várias vezes me salvaram, os sucos também. É já estive pra esses lados algumas vezes, pra olhar emprego, pra ir pra outro lugar, pra encontrar alguém ou uma galera. Enfim, o mundo é grande, viver é preciso, e metrô é essencial pra isso: permite o encontro e o desencontro, a partilha, a saída e a chegada, a busca e a perda. A saída do aconchegado ao sonho, da Vilarinho ao Eldorado.

Um comentário:

  1. Oi Eugênio !
    Adorei esta crônica. Eu tentei de imitar lá falndo do Centro. Rs... Escrever agora virou uma mania para mim. Tenho de me aprimorar mais lendo eu acho. Eu sei de quem vc está falando no Ed. Rio Negro. É da mãe da Rafela, né ? Sra. Divete. Eu já fui visitá-la umas duas vezes, depois não voltei mais. Preciso ir lá. Abração.
    Ué, vêm morar no Centro com sua família de novo...Rs... faça igual a mim: convence e carrega os veinho com vc. rs...

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